É pertinente pensamos que o processo de medicalização da sociedade e suas ações se formularam por caminhos construídos em uma constante luta de legitimação dos seus saberes perante a sociedade. Nesse sentido, a constituição de vários saberes e discursos médicos, em relação às formas e estratégias de como “tratar” as doenças, emergem como questões importantes a serem pensadas. Acreditamos que essa discussão possui uma pertinência dentro da historiografia brasileira, pois o entendimento da doença traz à tona os olhares tensos e conflituosos de uma sociedade que passava a ser delineada pelo imaginário do progresso e da civilização nas suas diferentes esferas do social. Nas discussões sobre a saúde pública constatamos que houve a criação de novos espaços de cura, o que nos leva a querer compreender a problemática a partir do cenário piauiense e das práticas e ações de criação e transferência do Hospital de Caridade as mãos da Santa Casa de Misericórdia. Assim, o objetivo do presente trabalho será compreender como ocorreu processo de transferência da administração do Hospital de Caridade de Teresina para a Santa Casa de Misericórdia, seu funcionamento dentro da nova capital piauiense, bem como analisar as relações de poder percorridas a fim de compreender a criação de um assistencialismo a partir da questão da saúde piauiense. Nesse sentido, foram analisados o conceito de assistencialismo e, conjuntamente com as leituras e discussões, foram sendo realizada a coleta e análise das fontes, principalmente, dos jornais que circulavam no Piauí no recorte de 1954 a 1961. Após as análises realizadas podemos constatar que durante muito tempo a medicina brasileira foi marcada por períodos em que o misticismo e os saberes populares predominaram, sem a estrutura física de um hospital. E essa situação se começa a se modifica a partir de 14 de setembro de 1822, quando na sessão da câmara de deputados, o Padre Domingos da Conceição propõe a criação de um hospital com a administração da Câmara. A proposta não foi efetivada e somente no ano de 1835 ocorreu a criação primeiro hospital do Piauí, denominado de Hospital de Caridade de Oeiras. Tal criação simbolizava um novo espaço de cura dentro de uma província. A partir da análise das fontes identificamos que os saberes médicos foram inseridos dentro da sociedade piauiense, bem como a aceitação popular constituiu a partir desse novo víeis de assistencialismo para as questões higienista e modernizadora. Assim, a relevância social e profissional dos médicos foram sendo formatados no interior da sociedade piauiense como o saber imutável e a medicina assumem o caráter científico nesses novos espaços de cura. Após esse novo olhar sobre a saúde pública podemos constatar que houve a criação de novos espaços de cura, que antes baseados nas tensões entre a caridade e o saber médico.
