Neste trabalho pretendo demonstrar como o trabalho poético e ensaístico de Octavio Paz trazem vários elementos do que se convencionou chamar de crítica decolonial, eles convergem para um movimento de destituição de marcas coloniais, sem que negue o passado colonial, mesmo por que ele é um dado inegável e material. Para isso presento mobilizar a obra poética de Paz, principalmente nas poesias que mais se aproximam do seu surrealismo, estas são dotadas de um sentido e de uma reverberação metacinética, conforme aponta Hans Blumenberg, que ferem toda a instituição conceitual – base para a ontologia ocidental. Em sua maior obra de crítica que se confunde com uma firme proposta de filosofia da linguagem, o autor proclama a possibilidade de devolver à linguagem seu efetivo lugar criador; Mas como pensar na linguagem para além do simples instrumento de comunicação e passagem de conteúdos e viabilizá-la como a “criadora de mundos e homens”? (PAZ, 1967: P 34) Para Paz esse movimento só é possível se encararmos a linguagem em seu estado mais legível e puro ao ser humano, isto é, a poesia. Para compreende esse caminho pretendo recuperar as bases de uma crítica teórica feita a partir da teorização de Hans Blumenberg, onde o autor define dois campos por onde a linguagem é levada em sua efetividade: por um lado, o eixo conceitual, que tem a sua plenitude e realização máxima no conceito puro, por outro, e o qual nos interessa mais, o eixo da metáfora, que tem sua expressão máxima na poesia. Essa verificação nos servirá para localizar as peculiaridades dessa restauração da linguagem via poesia vai ter, uma vez que no eixo metafórico, a realização plena se baseia na não-conceitualidade, na contradição tensa entre os elementos formadores e na multivocidade dos elementos disponíveis, ou seja, em relação a linguagem que o ocidente dispõe como base, estrutura e método de pensamento, há aqui uma violência extrema e um instante de derrubada dessa perene ontologia que nos cerca o pensamento. Se por um lado o pensamento de Paz se realiza no eixo da linguagem referente à metáfora, a nossa tarefa aqui partirá desse diagnóstico, para então compreender como se a convergência de história e poesia à uma deontologia que permite a re-realização da linguagem enquanto criadora do mundo-da-vida, para além de uma dependência das bases que deformam e isolam a linguagem compreendida em sua cotidianidade. E assim compreender o que é o projeto decolonial presente na obra de Paz.
Palavras-chave: Poesia. Teoria. Teoria da História. Antropologia Filosófica. Decolonial.