“Deslocados da Seca” na Hospedaria Getúlio Vargas: trajetórias de migração para diversas paragens.

Autor(a) principal: Renata Felipe Monteiro - UFC
Co-autor(a): -

A trajetória dos migrantes cearenses na Hospedaria Getúlio Vargas teve início na década de 1940, quando a migração de nordestinos para a região Amazônica tornou-se uma política de Estado, sendo assinados acordos entre Brasil e Estados Unidos para a extração de látex, dentre outras ações. Assim, no contexto de mobilização e estruturação direcionada aos flagelados para a Amazônia (os “soldados da borracha”) algumas hospedarias foram construídas no Norte e no Nordeste, dentre elas a Hospedaria Getúlio Vargas no Ceará. A respectiva hospedaria foi construída com o intuito de abrigar provisoriamente até 1.200 pessoas, sendo oferecido à população pobre migrante, além do pouso, alimentação diária e redes. Mas ao longo da existência dessa hospedaria (1943-1972), os flagelados que se deslocaram de suas cidades para aquele recinto, sobretudo, nos períodos de seca, encontraram uma situação de caos: superlotação, fome, ausência de condições sanitárias, doenças, etc. Na década de 1950, contudo, a hospedaria tornou-se o principal centro de referência para a população pobre migrante do Ceará ou de outros estados do Nordeste, que almejava ir para outras paragens do país. É o caso, por exemplo, do senhor Gabriel e dona Satina, que juntamente com os filhos, saíram em março de 1953 do Rio Grande do Norte em direção à hospedaria Getúlio Vargas, com o objetivo de conseguir migrar para o Pará. Ao chegar à Fortaleza, porém, não conseguiram vaga no recinto de hospedagem, ficando abrigados embaixo de cajueiros que ficavam defrontes à hospedaria. Após a intervenção do exército, a família do senhor Gabriel conseguiu partir no navio Poconé em direção à outra hospedaria, Tupanã, que ficava no Pará. Semelhante à trajetória desse flagelado e de sua família, inúmeros outros passaram pela hospedaria Getúlio Vargas. Durante a seca de 1958, o abrigo chegou à cifra de 12 mil migrantes, em suas dependências e nas adjacências. No intuito de evitar motins ou outros problemas o Governo Federal organizou uma força tarefa, que envolveu exército, marinha, aeronáutica, dentre outros órgãos, intitulada “Operação Flagelados”, sendo os flagelados enviados para a região Amazônica (sobretudo para os núcleos de colonização), Brasília, a Hospedaria da Ilha de Flores (Rio de Janeiro) e para os cafezais do Paraná. Assim, a partir de uma documentação diversificada (jornais, documentos oficiais, entrevistas, dentre outros) pretendemos entender por quais experiências os flagelados passaram durante sua permanência na hospedaria Getúlio Vargas, assim como entender quais as suas trajetórias de migração para diversas paragens do país na década de 1950.

Palavras-chave: Flagelados. Hospedaria Getúlio Vargas. Migração.