A história da atuação da Igreja Católica durante a ditadura militar brasileira (1964-1985) já é bastante conhecida. Diversas pesquisas acadêmicas dedicaram-se a esmiuçar as complexas relações entre a instituição eclesiástica e os militares que governaram o Brasil por mais de duas décadas. Sabe-se que a Igreja, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), apoiou oficialmente o golpe de Estado em 1964. No entanto, com o passar dos anos, sobretudo quando religiosos católicos começaram a ser diretamente atingidos pelas práticas repressivas das forças de segurança, a Igreja transformou-se, paulatinamente, em uma das principais opositoras do regime. Alguns bispos católicos passaram a protagonizar grandes embates com as autoridades ao denunciarem, no Brasil e no exterior, a violência do Estado ditatorial em suas mais diversas expressões. Há, contudo, um lado pouco conhecido dessa história: a ação de bispos que não apenas apoiaram a ditadura desde os primeiros momentos após sua instauração, mas também contribuíram para o funcionamento do aparato repressivo. Um dos principais membros do episcopado que atuou ao lado dos militares foi o mineiro dom Geraldo Sigaud. Como arcebispo de Diamantina (MG), ele agiu como um destacado porta-voz do anticomunismo e lutou arduamente contra o que ficou conhecido como “catolicismo progressista”. Dom Sigaud criou o hábito de denunciar aos órgãos repressivos os membros da Igreja que ele julgava como “subversivos”. Além disso, ele chegou a ministrar cursos sobre anticomunismo em instituições militares. Assim, o objetivo desta comunicação é apresentar parte de uma pesquisa em andamento que visa, de maneira mais ampla, compreender de que modo atuavam os religiosos conservadores em um momento em que a Teologia da Libertação era apoiada por parte significativa dos católicos brasileiros. A finalidade é aprofundar o conhecimento sobre a Igreja Católica que, no período da ditadura, ficou conhecida por sua atuação em prol dos direitos humanos, sendo que pouco se sabe sobre suas relações com os aspectos mais obscuros do regime ditatorial.
Palavras-chave: Igreja Católica. Ditadura militar. Anticomunismo