Ensinando História da Educação Física: desnaturalizando olhares, produzindo histórias

Autor(a) principal: Christiane Garcia Macedo
Co-autor(a): Aurilene Alves de Moraes

Na formação de professores/as de Educação Física os conhecimentos históricos são fundamentais para conhecer a trajetória da área, se entender como educador/a, formar pessoas mais críticas, reconhecer a pluralidade de corpos com os quais atuamos e poder construir práticas mais equitativas e inclusivas. Numa área marcada historicamente por práticas sexistas, eugênicas e excludentes, que visavam o disciplinamento de grupos sociais desfavorecidos, o ensino da história é um desafio necessário, porém muitas vezes encarado de forma arcaica, com a apresentação de fundadores, mestres e datas que fazem pouco sentido para os iniciantes. Nesse trabalho apresentamos e refletimos sobre a experiência de uma professora da disciplina de História da Educação Física na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Petrolina – PE) durante os últimos 5 anos, com as turmas do primeiro período do curso de graduação. Como base em uma formação crítica e buscando as discussões da Nova História, desenvolvemos a disciplina através de temáticas (Corpo, Esporte, Lazer, Brincadeiras, Dança, Educação Física escolar e produção do conhecimento), procurando envolver estudantes através de discussões que se relacionam com o presente e também em atividades que os/as integram na produção de histórias (no plural) que reflitam sobre a construção de outros olhares. Para tanto, desenvolvemos aulas dialogadas e algumas experiências/atividades/tarefas/trabalhos. Para cada aula é selecionado um texto base para o debate, e utilizamos ferramentas como slides, exposição oral, vídeos, notícias, problematizações de imagens e situações, questionamentos sobre as motivações e processos de legitimação das práticas, produção de sentidos e valores. Destacamos ainda três atividades avaliativas que se mostraram ricas no processo de envolvimento dos/as estudantes: a produção de histórias em quadrinhos sobre trajetórias de atletas; a realização de uma miniexposição sobre modalidades esportivas, instituições, temas ou acontecimentos; e o planejamento e execução de uma aula voltada para o ensino fundamental. Destacamos que essa forma de ensino demanda muito tempo de planejamento, apoio a estudantes e avaliação, porém o contexto possibilitou sua realização, visto que a professora da disciplina possui dedicação exclusiva para a Universidade, estabilidade por concurso e pôde assumir a disciplina durante todo o período (podendo fazer adaptações e acréscimos ao longo dos anos). Também é importante destacar que atuar buscando a formação crítica, não é mais fácil e nem garantia de “sucesso” entre os/as estudantes e colegas, pois exige incomodar, negociar e convencer.  Ações que formas mais tradicionais dispensam, já que manter as coisas como são e sem questionamentos já está dado. Ouvir os/as estudantes, fazê-los/as falar e agir, buscar formas atrativas de construir relações e estar consciente de que nem sempre dá certo como idealizamos, são pontos que se mostraram fundamentais para essa experiência. Reconhecer a trajetória da área mostrou a importância no trabalho anti-sexista-racista -gordofóbico-lgbtfóbico-capacitista-aporofóbico-xenofóbico, enfim contra todos os preconceitos marcados nos corpos e nas práticas corporais. O ensino da história se apresenta como possibilidade de mudar essas trajetórias, produzindo outros entendimentos e se reconhecendo como agentes.

 Palavras-chave: História. Educação Física. Disciplina. Experiência. Ensino.