Espaço-tempo infinito: escravidão de fronteira, um olhar a partir do Texas cinematográfico.

Autor(a) principal: Karen Souza da Silva - UFF
Co-autor(a): -

Quando André Bazin se debruça sobre as razões que fazem do faroeste americano um gênero cinematográfico atemporal, capaz de suscitar o mais “estável” dos reconhecimentos, recorre não apenas à universalidade geográfica em que aridez e dramaticidade se confundem em cena, mas à perenidade de fatos históricos cuja força por vezes se perde sob as camadas invisíveis do roteiro. Roteiros que tradicionalmente apresentam narrativas ambientadas durante a Guerra Civil Americana (1861 a 1865), em contextos de debates internos — nem sempre nítidos — que contrapõem o Norte industrial ao Sul escravista. Argumentos que, quase feito uma elipse, retratam as lutas contra os mexicanos recém-liberados da dominação espanhola, seja por meio da Batalha de Álamo — cujo desfecho em San Jacinto, a independência do Texas, impõe acachapante derrota ao general Santa Anna —, seja via Guerra México-Estados Unidos. Leituras que, “reais” ou inventadas, não deixam margem para dúvidas sobre o caráter expansionista da antiga colônia britânica e sobre as rusgas internas que dividem a sociedade da América do Norte em torno à economia escravista. “Pobre México! Tão longe de Deus; tão perto dos Estados Unidos”, condenado a reviver no presente, infinitas vezes a cada nova e eternizada cena, as humilhações de Santa Anna. Sob diferentes perspectivas, o México parece indicar os rumos de uma narrativa histórica e cinematográfica que não existe sem a noção de fronteira, simbólica e espacial; interna, internacional e internalizada. Sempre em movimento. Continuamente ressignificada. Ao estudar a escravidão de fronteira comparando-a com a narrativa de O Álamo (The Alamo, EUA, 1960, de John Wayne), buscamos usar o filme como fonte para problematizar os mecanismos políticos, econômicos e simbólicos que passam a ser acionados pelos Estados Unidos na primeira metade do século XIX, especialmente a partir da anexação do Texas, em 1845, e que ajudam a consolidar a figura do cowboy como instrumento de difusão de uma hegemonia que começa a desenhar-se no final deste mesmo século, com o vácuo deixado pelos ingleses. A comunicação revela como relato histórico se contrapõe às narrativas eternizadas por Hollywood, mitificadoras da Marcha para o Oeste, do Destino Manifesto, da fronteira branca, da supremacia norte-americana.

Palavras-chave: Escravidão. Fronteira. México-EUA. Sistemas-mundo. Faroeste.