Heloísa (c.1100-1164) do Paráclito: sabedoria que atravessou o tempo como amor e lenda.

Autor(a) principal: Luciana Alves Maciel – UFMT
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Em 2014, quando se completavam oitocentos e cinquenta anos do falecimento de Heloísa (c.1100-1164), Guy Lobrichon (1945- ), professor emérito da Universidade de Avignon, publicou no France Archives, um compêndio a questionar quem de fato foi essa personagem. Reconhecida ao longo de décadas pela historiografia como a esposa de Pedro Abelardo (1079-1142), Heloísa é filha de Hersend, da casa dos Montmorency, e sobrinha de Fulbert, um cônego regular da Catedral de Notre-Dame. Fulbert tornou-se o responsável pela educação de Heloísa que teve os primeiros ensinamentos no Convento de Santa Maria de Argenteuil. Heloísa saiu de lá por volta de 1117 para morar com o tio em Paris, no bairro clerical da Île-de-Cité. Foi em Paris que Abelardo, atraído pela sua fama de inteligência e beleza, aproximou-se de Heloísa com a aprovação de Fulbert, então interessado nos ensinamentos do mestre para instrui-la na lógica. A partir daí, essa história de amor foi cantada em verso e prosa durante séculos e assim é reconhecida pela grande maioria de historiadores aos quais tivemos acesso. A finalidade desta comunicação é compreender o que está além do romance entre os dois, reconstruindo a trajetória dessa aristocrata, aluna, amiga, amante, esposa, mãe, freira forçada, prioresa por eleição, abadessa por vocação e fundadora de uma ordem religiosa. Para tanto, temos como intento analisar as cartas trocadas com Abelardo, assim como as trocadas com outros pares no mesmo período, afim de identificar nos traços de sua escrita a manipulação através da retórica com intuito de atingir seus objetivos. Heloísa ainda jovem tinha conhecimento de latim, hebraico e grego. Ela também era uma estudiosa da Bíblia de onde extraiu numerosas citações para argumentar com Abelardo. Heloísa foi uma mulher que ainda jovem já estava em contato com a sociedade do seu tempo, algo que pode ser observado nas suas epístolas, sobretudo nas citações de Ovídeo, Sêneca e na observação sobre Aspásia. Nem a frente, nem atrás, mas no seu tempo, Heloísa foi forjada nas regras rígidas da educação secular, o que a tornou reconhecida já na juventude por sua inteligência pelos pares da mais alta aristocracia. Em nossa busca, desejamos encontrar não uma, mas várias Heloísas, quase todas elas menosprezadas por boa parte da historiografia que a condenou a viver à sobra do grande filósofo que tanto amou.

Palavras-chave: Sabedoria. Educação. Memória.