História e Historiografias sobre a Amazônia: debate necessário e perspectivas.

Autor(a) principal: Leila Mourão Miranda – UFPA
Co-autor(a): -

A historiografia brasileira contemporânea, de modo geral, tem adotado as terminologias Amazônia e Pan Amazônia como um dado a-histórico, interpretando-as como evidentes por si mesmas. As noções conceituais de uma imensa floresta e grandes rios, assim como os mitos referenciais a elas atribuídos tem sido o fio condutor de grande parte das narrativas historiográficas sobre a região. O’ Connor ressalta que vivemos num ‘mundo’ capitalista e narramos histórias desse mundo. A lógica da narrativa histórica da Amazônia/Pan Amazônica nesta perspectiva, vincula-se à lógica do sistema capitalista, e deve resultar na escritura da história, em suas múltiplas dimensões, em termos macros: política, econômica, social, cultural e ambiental. Adotando-se a premissa de Marc Bloch de que a história a ser narrada é a história dos ‘homens’ no sentido de humanidade, organizada em suas diferentes sociedades em interação com os ambientes em sua diversidade, produzindo diferentes modos de viver, pensar e agir, no planeta, percebe-se que a matriz universalizadora  para qualificar  e desqualificar a região e parcela  de sua população, ainda prevalece. Ressalta-se que processos históricos ainda que similares, apresentam peculiaridades e especificidades próprias, o que dificulta ou impede a aplicação de um único modelo interpretativo. Há sem dúvida uma profícua produção historiográfica sobre a região nas ultimas décadas, mas o suporte documental que lhe deu base, com raras exceções, fundamenta-se em documentação oficial do Estado ou de seus prepostos. Nesta perspectiva para os/as historiadores/as algumas questões se evidenciam em face a permanência de termos como índios, idigianismo e história indígena que anulam a possibilidade de abordar os distintos grupos como povo/nação;   os ribeirinhos e quilombolas não reconhecidos como existentes juridicamente, até recentemente; o povoamento, os mundos urbanos regionais e sua complexa inserção na socioeconômica brasileira; a disputa da posse e a propriedade das terras e de tudo que ela contém, na região; e por fim a ideia de nação brasileira em sua inconclusiva composição e conflituosa na percepção da complexidade social e histórica. Questões estas que colocam em debate, encruzilhada e confrontos as interpretações históricas, apontando outras perspectivas e possibilidades, assim como a necessidade de revisões indicando a urgência de elaboração de novas matrizes interpretativas que deem conta da complexa realidade histórica vivenciada na região. Interpretações que possibilitem compreender as premissas do movimento indígena contemporâneo, a recente fala de Daniel Munduruku “eu não sou índio, não existem índios no Brasil”, assim como descalbro falatório dos mandatarios do capital sobre a região e remanescentes desses gupos humanos.

Palavras-chave Amazonia, historiografia, desafios, perspectivas.