Imagens para o colonialismo líquido: Pedro Costa e os vestígios do atlântico

Autor(a) principal: David Leitão Aguiar
Co-autor(a): -

Ao longo de sua filmografia, Pedro Costa, cineasta português, realiza uma série de procedimentos estético-políticos que rompem uns com os outros, de obra em obra. De Casa de lava (1994) a Vitalina Varela (2018), é possível observar uma cadeia de vestígios de um fenômeno específico, que vai se materializando nas imagens: o colonialismo-líquido, megamáquina, dentre tantas, constitutiva de uma sociedade de controle, novo estágio do capitalismo no qual Deleuze teoriza estarmos vivendo. Pedro Costa atravessara o Atlântico para filmar Casa de lava em Cabo Verde, na ilha de Tarrafal, campo de concentração para presos políticos do período salazarista, e acabou por se deparar com um mundo repleto de máquinas tecnossociais: se, por um lado, havia uma máquina social de produção de um novo regime político – a máquina social colonialismo-líquido –, por sua vez, esta produziu para si a máquina tecnossocial de produção de imagens, a máquina-cinema. Ao retornar de Cabo Verde, Costa irá se deter nos guetos lisboetas, formados por imigrantes das ex-colônias africanas, em especial, as Fontainhas. Pedro Costa percebe-se afetado por suas experiências no gueto e vê suas afetações não se concretizarem satisfatoriamente em Ossos (1997). Entre Costa e o fenômeno “Fontainhas”, havia a máquina-cinema: máquina de imagens incapaz de dar forma visual às realidades residuais. Doravante, Costa realiza uma radical ruptura em seus processos estético-maquínico-políticos, e acreditamos que fê-lo precipitar as benjaminianas imagens dialéticas, em Cavalo Dinheiro (2014), obra que detém nossa especial atenção. Portanto, pressupomos que Pedro Costa está diante de duas problematizações demasiadamente contemporâneas: como produzir imagens de crises da história com máquinas programadas – crise das imagens – para controlar e produzir um mundo em prol de um dado regime político, o colonialismo-líquido? Poderiam os vestígios da história compor um outro regime de imagens que possa desprogramar os aparelhos, desarranjar as máquinas e fissurar as megamáquinas? As imagens-vestígios seriam moléculas que, num determinado arranjo, precipitariam as imagens dialéticas as quais Benjamin acredita poder constituir um legítimo conceito da história? Para tanto, convocamos a esquizoanálise de Deleuze e Guattari para realizar uma fisiologia de tais máquinas tecnossociais, bem como procedemos a construção de pontes/diálogos com autores que, de alguma forma, perceberam o mundo das máquinas, em especial as máquinas produtoras de imagens técnicas, ao exemplo de Agamben, Guattari, Vilém Flusser, Benjamin e Comolli.

Palavras-chave: Intelectuais. Paulo Duarte. Darcy Ribeiro. Júlio de Mesquita Filho.