Imaginando escritores de província: linguagens políticas e redes intelectuais no modernismo cearense (1930 – 1988)

Autor(a) principal: Plauto Daniel Santos Alves
Co-autor(a): -

Esta pesquisa discute os usos de determinadas retóricas e expressões empregadas por um grupo de intelectuais atuantes na cena cultural de Fortaleza/CE, entre o início da década de 1930 e fins dos anos 1980. Comumente designados pelo termo CLÃ – alcunha que consagrou tanto o movimento em questão quanto o periódico que publicaram por mais de quarenta anos (1946-1988) – esses indivíduos frequentemente se caracterizaram como “escritores da província”, expressão que aludia a uma suposta hierarquia literária que tanto dividia os letrados entre metropolitanos e provincianos quanto condenava os trabalhos destes últimos a sofrerem de baixa notoriedade e pouca visibilidade editorial. Isto posto, esta pesquisa aborda a sublinguagem em que o termo “escritor de província” se encontrava inserido, isto é, o vocabulário, as retóricas, as convenções e as formas de falar arraigadas à comunicação do grupo mencionado. Acredita-se que através dessa sublinguagem os letrados em questão estabeleceram uma malha letrada por meio da qual circularam capitais culturais e simbólicos que possibilitaram o acesso às ocupações e aos privilégios que se encontravam em disputa na cena intelectual local. No intuito de entender a formação da sublinguagem praticada por essa agremiação, enseja-se identificar o vocabulário, as retóricas, as convenções e as maneiras de falar/encarar a política presentes na revista CLÃ e na revista Valor, textos importantes no processo de formação do grupo. Nessa etapa, busca-se também determinar quem eram os enunciantes mais contumazes desses elementos linguísticos a fim de determinar quem foram os agentes significativos para a formação da dita sublinguagem, expediente que permite tomar distância do panteão oficial de integrantes do coletivo cuja elaboração e consagração remonta, em última instância, aos próprios partícipes do movimento. A partir dessas informações, planeja-se produzir uma prosopografia que visa delinear as posições sociais específicas e os espaços de sociabilidade ocupados pelos agentes históricos, a fim de possibilitar, respectivamente, a compreensão do emprego de determinadas estratégias retóricas e o rastreio da origem, institucional ou política, de certos termos e argumentos. No que diz respeito à consagração do coletivo, busca-se identificar os livros e escritores mencionados pelos editores da revista CLÃ, bem como as retóricas, convenções e os termos que localizam essas obras e seus autores no espaço. Em seguida, objetiva-se sobrepor tais locais a mapas históricos das fronteiras brasileiras a fim de entender, graficamente, como os editores do periódico imaginavam a rede que engendraram. Pautado no trabalho de Franco Moretti esse procedimento não visa elaborar mapas, mas, diagramas, seu objetivo é possibilitar a reflexão em torno das forças que agiram para criar o desenho resultante. Essa pesquisa se encontra em andamento, por isso diversos dados ainda estão por ser coletados.

Palavras-chave: História Intelectual. Intelectuais modernistas. Grupo CLÃ.