A partir da década de 1960, o intelectual potiguar Luís da Câmara Cascudo redefiniu seu campo de estudo entre o folclore e a antropologia, abrindo espaço para a etnografia e assumindo o perfil de mediador cultural. Isso ocorreu, especialmente, quando ele foi à África, em 1963, para pesquisar as raízes da alimentação brasileira nas províncias africanas de onde ocorreu o tráfico de pessoas escravizadas para o Brasil. Sua viagem ao continente africano fortaleceu os interesses que atravessaram sua formação e atuação intelectual em torno do folclore e da chamada cultura popular. A partir disso, o objetivo central deste trabalho é investigar a viagem de Câmara Cascudo à África e analisar a produção decorrente dessa pesquisa etnográfica para entender como ele construiu uma ideia de cultura popular alimentícia. Com este propósito, pautamos nossas análises teóricas em autores como Jean-François Sirinelli (2003), para entendermos o conceito de intelectual; Peter Burke (2020), para compreendermos a ideia de intelectual polímata; e Angela Castro Gomes e Patricia Santos Hansen (2016), para percebermos Cascudo enquanto um mediador cultural. Como recurso metodológico, analisamos fontes periódicas de jornais de época: artigos, entrevistas e reportagens sobre a referida viagem. Também faremos o uso de correspondências trocadas entre Câmara Cascudo e outros intelectuais que produziram acerca do tema da alimentação, especialmente no Brasil e na África. E, ainda, nos apropriamos da bibliografia cascudiana em torno do tema, a saber: A Cozinha Africana no Brasil (1964), Made in Africa (1965) e História da Alimentação no Brasil (1967). Todo esse material será examinado a partir da análise de discurso, na perspectiva de Michel Foucault (2004), para entendermos como essa ideia de uma cultura popular alimentícia foi sendo construída no/pelo pensamento de Luís da Câmara Cascudo.
Palavras-chave: Câmara Cascudo. África. Brasil. Mediação Cultural. Cultura Popular Alimentícia.