Mário de Andrade é um nome constantemente lembrado quando se trata do processo de institucionalização das políticas de patrimônio no Brasil. Sua imagem, está associada, sobretudo, a dois aspectos: ao processo de fundação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – instituição que teve suas bases forjadas pelo anteprojeto de 1936 elaborado pelo escritor paulista; e uma concepção de patrimônio nacional democrática e abrangente que não se limitava ao universo dos edifícios e obras de arte barrocas. Dessa forma, dentre os diversos temas tratados na sua imensa obra, ganha notoriedade nesse discurso os seus estudos sobre o folclore brasileiro, que constaria no seu anteprojeto. No entanto, essa forma de constituir a memória de Mário de Andrade começa a dar seus primeiros passos em fins da década de 1970, fenômeno que não tem mais que quarenta anos, o que nos faz pensar sobre os interesses e projetos que animavam essa nova perspectiva mnemônica. Por outro lado, urge refletir sobre as formas pelas quais Mário de Andrade é evocado pelas políticas de patrimônio antes do findar da década de 1970, e como o campo dos estudos folclóricos nas décadas de 1960 e 70, apropriam-se de aspectos da pesquisa do poeta paulista que mais tarde serão reapropriados pelos discursos patrimoniais com o nome de patrimônio imaterial. Para a elaboração do trabalho, foram analisadas as publicações da Revista do Sphan, boletins do Sphan/Pró-memória, jornais e revistas do período que tratam da temática, além das publicações da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro. A pesquisa tem o objetivo de compreender as formas pelas quais grupos e sujeitos acionam a memória de Mário de Andrade para legitimar os seus mais diversos interesses. Nesse sentido, a memória, como já alertam vários autores, é um fenômeno intrinsecamente relacionado com demandas e projetos do tempo presente.
Palavras-chave: Patrimônio. Memória. Folclore.