A participação ocasional de indivíduos de diversos atores sociais na atividade comercial era um fenômeno largamente observado não apenas no Brasil colonial, mas em outras realidades do mundo moderno. Mesmo com a proibição do comércio para os funcionários régios, estes sujeitos não deixavam escapar a oportunidade de auferir grandes lucros durante sua estadia na colônia, principalmente para compensar os baixos salários. Os governadores, por exemplo, circulavam pelas diversas paragens do Império e ao não se fixarem por longos períodos deveriam, ao menos na teoria, corporificar os interesses da monarquia acima dos interesses locais. Nesta apresentação procuramos debater quais eram as estratégias utilizadas pelo governador da capitania de Pernambuco, Dom Tomás José de Mello, para manter o controle sobre o comércio de diversos produtos importantes da capitania de Pernambuco, como a carne, a pólvora, a farinha, entre outros. Percebemos que através de práticas verticais clientelares, Dom Tomás construiu uma complexa rede montada por testas de ferro e oficiais régios que lhes davam o controle da distribuição e comercialização destes produtos. Era assim que conseguia arrematar contratos e instituir monopólios gerando descontentamento na praça comercial do Recife. Sua inserção no comércio da capitania provocou uma série de denúncias, dentre os detratores, João de Deus Pires Ferreira, comerciante do Recife, escreveu um texto explicando em detalhes as ações do governador denominado “Análise do monopólio das carnes, da pólvora e do comércio da ilha de Fernando de Noronha praticados em Pernambuco debaixo da proteção do governador da aquela capitania D. Tomás José de Mello”. A “Análise do monopólio”, mesmo que não explicitamente, teve sua contradita em vários ofícios escritos pelo governador endereçados ao Conselho Ultramarino. O resultado da campanha empreendida pelos seus rivais obteve êxito com a instauração de uma devassa que resultou na sua defenestração do cargo de governador no ano de 1798.
Palavras-chave: Pernambuco. Comércio. Monopólio. Corrupção.