Vários séculos foram necessários para que as mulheres passassem de musas inspiradoras de romances e poesias para escritoras e, mais ainda, para escritoras que retratassem a condição da mulher. O pequeno recorte historiográfico a seguir demonstra a pouca herança literária sobre a vida da mulher: a partir de A cidade das damas, de Christine de Pisan (1405), passando por Valor da mulher, de Moderata Fonte (1600), e A nobreza e a excelência da mulher, de Lucrécia Marinelli (1601), chegando em Some reflexions upon Marriage, de Mary Astell (1700), a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, de Olympes de Gouges (1791) e Vindication of the rights os the women, de Mary Wollstonecraft (1792), atingimos o fim do século XVIII, período em que a mulher não escreve apenas para protestar, mas também para ajudar no sustento da família. Esse período em que a mulher (ressalta-se, da classe média) começa a escrever é descrito por Virginia Woolf, em Um teto todo seu, como “de maior importância do que as Cruzadas ou a Guerra das Rosas” (1990). Esse texto é um grande marco para estudiosos da literatura feita por mulheres por escancarar um cenário típico da situação feminina: a falta de dinheiro e de privacidade não permitiam às mulheres escrever ficção, além da ocupação com o cuidado da família e dos afazeres domésticos. Contudo, mesmo com cenário adverso, as mulheres adentram o século XX conquistando mais largamente seu espaço nas estantes de livros. Para elas, a oportunidade de viver da literatura e narrar suas angústias; para os leitores, a oportunidade de ver a história contada por quem sempre foi “narrada”. Ainda assim, a conquista do direito de fazer literatura estava concentrado na mulher branca, oriunda da metrópole e de classe média, até que mulheres de diversas origens, etnias e gênero começaram a reivindicar seu espaço na literatura e, por consequência, a questão não era mais apenas escrever, mas tratar de temas tabus como maternidade e sexualidade. O século XX chega ao fim chacoalhado por guerras, intensos movimentos sociais, culturais, políticos e econômicos e, no nascer do próximo período, as mulheres ainda lutam por direitos que já pareciam pacificados. Ainda que a mulher escritora tenha muitos desafios, especialmente questionar o cânone masculino, a mulher que hoje, no século XXI, lê e faz literatura, teoria e crítica, deve às antepassadas um reconhecimento de sua bravura. Voltar às mulheres da literatura do século XX é enxergar como elas representaram o mundo que ficou para trás e o que falta narrar para as próximas gerações.
Palavras-chave: Mulheres. Literatura. Século XX.