O processo de construção/afirmação da identidade negra no período escolar da EA/UFPA.

Autor(a) principal: Kaio Breno de Castro Cardoso - UFPA
Co-autor(a): -

A questão da identidade étnico-racial tem ganhado espaço nas discussões envolvendo o ensino-aprendizagem no campo da disciplina História, principalmente após as políticas públicas de acesso à educação a partir dos anos 2000. Entender a identidade negra como uma construção social, histórica e cultural fez-se em função da complexidade que envolve as questões culturais com o ensino de História no âmbito escolar principalmente, pois entende-se que a identidade negra também se constrói durante a trajetória escolar e na diversidade da sala de aula. A história oficial e o conhecimento escolar foi marcado por uma invisibilidade da identidade negra e indígena, afim de justificar uma superioridade racial dos brancos sobre os demais e valorizar uma padronização de “civilidade” europeia, marginalizando assim a cultura e a religião dos povos negros e indígenas. Tendo em vista tais processos históricos que ressaltaram o mito da democracia racial no Brasil, o presente trabalho teve como objetivo analisar o processo de construção/afirmação da identidade negra na escola de aplicação da UFPA a partir da bibliografia especializada e da Lei 10.639/03, que apontou perspectivas e possibilidades diante dos desafios da educação para as relações étnico raciais no cotidiano escolar. A partir da afirmação “Ser negro não é uma condição dada a priori. No Brasil, ser negro é tornar-se negro” (SOUZA, 1990) buscou-se entender: Quando os educandos da escola de aplicação se identificam/aceitam como pessoas negras? Quais os fatores que interferem positiva e negativamente nessa identificação? Qual o sentimento dos estudantes antes, durante e depois desse processo? Para alcançar as respostas fez-se como metodologia a observação participante nas aulas de história nos anos finais do ensino fundamental II, assim como análise do questionário preenchido pelos educandos do mesmo nível de ensino e balanço dos trabalhos desenvolvidos do segundo ano do ensino médio no projeto cartografia da cultura afro-brasileira e indígena, mais especificamente do GT. Mulher negra: valorização e trabalho. Após o cruzamento de fontes bibliográficas com entrevistas semi diretivas aplicadas e direcionadas aos discentes, bem como as informações coletadas através de questionário, observou-se que os educandos até o 8° ano do ensino fundamental não se identificavam como negros ou “pretos”. Esse processo de identificação cultural foi evidenciado apenas com os discentes do fim do 8° ano juntamente com um início a discussão do racismo, mostrando uma melhor compreensão dos problemas sociais com o trabalho interdisciplinar entre história e sociologia. Ao acompanhar os estudantes do ensino médio, em especial aqueles que estavam matriculados na escola desde o ensino fundamental II, percebeu-se uma maior consistência teórica sobre os assuntos como racismo, injuria racial, violência de gênero e raça. Embora tal consistência tenha se mostrado com maior evidência no caso citado, ainda é perceptível uma predominância de relacionar as questões étnico-raciais como a-históricas e fora do contexto social. Essas questões foram mais abordadas e aprofundadas nas etapas finais das atividades do projeto cartografia, o qual se mostra como um “verdadeiro compromisso pedagógico e social de luta contra o racismo”, e de afirmação da identidade negra.