Este artigo, fruto de pesquisa pós-doutoral homônima em andamento, propõe a recuperação histórica da abolicionista pernambucana Olegária Gama Carneiro da Cunha (1860 – 1898). Nascida em um Recife escravocrata e vinda de família abastada, engajou-se diretamente à causa abolicionista. Empenhou jóias para angariar recursos à candidatura de Joaquim Nabuco a deputado constituinte, participou diretamente na viabilização de fugas de escravizados, fez do solar em que vivia abrigo e local de reuniões em prol da libertação, e integrou a associação feminina emancipadora Ave Libertas. Reconhecida pelo papel ativo no movimento emancipatório até pelos jornais conservadores da época, era casada com o político liberal, jornalista e abolicionista José Marianno, com quem teve cinco filhos. Sua morte precoce, aos 38 anos, de uma influenza, provocou forte comoção popular. Passados 125 anos, segue presente no imaginário social pernambucano como elemento insurgente contra a elite escravocrata e patriarcal da qual era oriunda e beneficiária, mas permanece quase completamente desconhecida pela historiografia nacional. O propósito desta pesquisa é, ao investigar registros históricos e resgates de memória, identificar as formas de participação da abolicionista nos movimentos pelo fim da escravatura no Brasil, tendo por norte a hipótese de que sua atuação extrapolou a mera condição de esposa de José Marianno. Pretende-se destacar o engajamento feminino no abolicionismo como possibilidade de retirada das mulheres da coadjuvância, as inserindo numa espécie de primeiro exercício de emancipação feminista. Dessa forma, como consequência, visa a destacar a personagem nos estudos contemporâneos acerca dos Oitocentos. Para isso, a pesquisa tem como lastro o arcabouço teórico e metodológico da História Social, com destaque para estudos da escravidão e do movimento abolicionista no Brasil, sob a perspectiva do protagonismo de escravizados e mulheres no processo emancipatório.
Palavras-chave: Olegária. Abolicionismo. Feminismo. Oitocentos. Recife.