Os filhos da guerra

Autor(a) principal: Meize Regina de Lucena Lucas - UFC
Co-autor(a): -

A cinematografia em torno da Primeira e da Segunda Guerra Mundial é extensa, variada, e realizada em diversos países ao longo dos anos. Em cada época, novas abordagens trazem à baila discussões sobre os vitoriosos e perdedores de guerra, os protagonistas das batalhas, a diplomacia e política entre nações, as cidades esvaziadas de homens, os traumas após o fim dos conflitos. O protagonismo norte-americano se alastra em parte considerável dos filmes, muitos focados em personagens singulares, que induzem a algum tipo de identificação: do soldado, da mãe, do pai que recorda guerras anteriores, da noiva que espera, do ferido, do comandante que guia suas tropas, do
capturado. Há várias exceções nessa abrangente filmografia. Aqui se incluem experimentos estéticos e de gênero, como “Dr. Fantástico”, dirigido por Stanley Kubrick em 1964, e produções de países cujas realizações aparecem de forma mais escassa no Brasil, caso de “Sobibor”, produção russa de 2018 dirigida por Karl Frenzel. Neste último
caso, o grande aliado a ser esperado pelos poloneses são justamente os russos, e não os norte-americanos ou ingleses. Dentro deste universo analisarei o filme húngaro de 2016, “O filho de Saul”, de Lászlo Nemes. O filme se centra em Auschwitz e a câmera acompanha o que se passa neste campo a partir do olhar de um judeu que integra o
Sonderkommando, ou seja, o conjunto de homens que trabalhavam na limpeza das câmaras de gás. A questão central dessa comunicação é pensar a forma como a câmera se coloca no lugar do personagem: como se desloca, como vê os demais, como se esgueira pela instituição concentracionária. O filme não apenas adota um ponto de
vista ao qual se atém ao longo de quase duas horas. Ele cria, por meio da estética expressa pela fotografia, cores e montagem, formas de refletir sobre a Shoah que prescindem da palavra, do diálogo e, no limite, mesmo de um enredo. A comunicação dialoga diretamente com Georges Didi-Huberman e Jacques Rancière.
Palavras-chave: Representação, Segunda Guerra Mundial, cinema húngaro.