A finalidade deste trabalho pretende analisar uma pequena amostragem dos autos de processos crimes da comarca da cidade de União da Vitória entre as décadas de 1940 e 1950 em que se contemplam um razoável número de suicídios. O estudo destes casos permite inferir uma série de informações sobre a sociedade sul paranaense em meados do século XX e os sujeitos que partiram da vida deixando poucos rastros de suas existências e motivações para o ato final. O tema da morte autoinflingida apresenta já seu repertório de estudos clássicos para as ciências sociais desde Emile Durkheim, mas a reflexão qualitativa das condições nas quais se registram os feitos nos inquéritos policiais e jurídicos foram ainda pouco explorados. Dos dados prévios já apurados alguns resultados e conclusões permitem identificar uma tipologia na qual os casos se manifestam e que delineam uma metodologia de classificação. O primeiro grupo selecionado diz respeito às vítimas que anunciam seu desejo de pôr termo a existência. Neste segmento cada sujeito eventualmente foi ouvido com preocupação ou mesmo desqualificado em seus impulsos. Já no segundo grupo há aquelas vítimas que não deixaram explícita sua vontade, e os fatores que levaram ao suicida a executar seu ato final jamais ficaram esclarecidas no corpo dos processos. Nesses casos tal registro não foi feito mesmo quando as oitivas ouviram testemunhas e pessoas próximas que documentaram indícios do que levou ao momento incontornável da morte auto produzida. Ainda neste segundo grupo de casos há também aqueles em que as testemunhas ou parentes próximos relacionam uma motivação intuída ou factível para que o morto tivesse tomado esta atitude. Na região estratégica sul paranaense que recebeu na primeira metade do século XX grande contingente imigrante de variadas procedências como italianos, ucranianos, poloneses, russos, alemães e sírio libaneses a coexistência nas colônias agrícolas dos chamados “vazios populacionais” nem sempre foi tranquila. Mesmo no centro urbano mais densamente povoado de União da Vitória o suicídio, como escape a situações de sofrimento ou constrangimento social, foi frequente e ficou lavrado nos autos. O que se entrevê são os silêncios e apagamento dos rastros em torno do tema e dos sujeitos. O suicídio em si fixado como tabu social e moral que em alguns casos a letra laica da lei não alcança. Mas de todo modo a pena do escrivão se concentra sobre as circunstâncias materiais da morte oferecendo uma determinada representação das cenas, indumentárias, horas, locais e possibilidades do enquadramento legal, aí se encontram os indícios de vidas ocultas e partidas silenciosas.
Palavras-chave: Suicídio. Sul paranaense. Morte.