Esta pesquisa tem por objetivo compreender historicamente os debates formulados acerca do que seria adequado às crianças brasileiras assistirem na televisão, entre os anos de 1972 e 1988. Para desenvolver este trabalho, destaca-se a produção de discursos de alguns grupos sociais como educadores e profissionais do saber psi, através da imprensa e de trabalhos acadêmicos, dos formadores da Escola Superior de Guerra, e de gestores e funcionários da Censura Federal. Efetuada pela Divisão de Censura a Diversões Públicas (DCDP), vinculada ao Departamento Federal de Segurança Pública, a censura é considerada um dos pilares da ditadura militar e, por meio da censura prévia, tinha acesso ao conteúdo que seria transmitido pela TV, produzindo pareceres sobre o que avaliavam e se posicionando sobre os assuntos. A partir do debate sobre o que seria adequado para as crianças, busca-se entender as críticas feitas às novas tecnologias, às mudanças nos grandes centros urbanos e aos problemas supostamente advindos dessas transformações ao desenvolvimento da criança e à nação brasileira. Os três grupos têm distanciamentos e aproximações com relação ao que a criança deveria ou não ver, sobre o papel dos pais no acesso à TV e sobre as implicações para o futuro do País de uma geração que via televisão. Desse modo, a psicologia, a psicanálise e as análises psicologizantes, ou seja, o discurso “psi” aparecia, não necessariamente articulado por psicólogos, na imprensa e na censura, como um modo de compreender as mudanças que ocorriam nas relações sociais e nas novas subjetividades que se forjavam em contato com as novas tecnologias. Foi a partir das revistas e dos pareceres censórios que o recorte temporal foi definido, sendo 1972 o ano em que a discussão sobre a criança e a televisão foi proposta em uma revista de cinema, expondo a tensão acerca do assunto pela perspectiva do mercado, e, 1988, o ano que o órgão censor encerrou suas atividades.
Palavras-chave: Ditadura militar. Televisão. Discurso psi. Infância. Juventude.