Resistência transnacional: o exílio de Miguel Arraes (1965-1979)

Autor(a) principal: Débora Strieder Kreuz
Co-autor(a): -

A presente proposta de trabalho objetiva compreender as articulações transnacionais realizadas a partir do exílio decorrente da ditadura civil-militar, tendo como centro de análise a trajetória exilar de Miguel Arraes. O exílio, conceituado aqui como um espaço de “exclusão institucional” (SZNAJDER, RONIGER, 2013), foi uma das estratégias utilizadas pela ditadura para eliminar do cenário político aqueles atores considerados inimigos internos. Contudo, também se transformou em um espaço de resistência, com a denúncia internacional das violações de direitos humanos que ocorriam sistematicamente em território nacional e as constantes tentativas de rearticulação das esquerdas para o retorno ao Brasil. Nosso objetivo é compreender como Miguel Arraes, governador de Pernambuco no momento do golpe e que, após um período na prisão partiu para o exílio na Argélia, atuou na esfera transnacional para estabelecer diferentes formas de denúncia do que acontecia em território brasileiro, assim como auxiliar outros exilados que passavam pelo país magrebino. Arraes foi um importante ator político no pré-golpe, já que no seu estado os movimentos sociais, sobretudo do campo lutavam ativamente pela melhoria das condições de trabalho e pela realização de uma reforma agrária ampla, de maneira que durante o seu governo foram realizados os primeiros acordos entre latifundiários e camponeses (BARROS, 2013). No exílio, que perdurou por quatorze anos (1965-1979), seguiu de diferentes formas atuando em temas relacionados ao Brasil. Para a realização da proposta utilizaremos a correspondência enviada e recebida por Arraes durante todo o seu exílio, a qual, a partir de uma análise inicial, demonstra que o líder pernambucano esteve inserido e foi responsável por diferentes iniciativas de resistência a partir do exílio. Diferentes memórias (BONA GARCIA, 2016; GOUVÊA, 2019; KNAPP, 2013;) apontam que ele foi uma referência para alguns exilados. Também buscaremos compreender, a partir da documentação repressiva (SNI, CIEx), como a ditadura manteve a vigilância sobre o mesmo. Por fim, buscamos salientar com o estudo, que as diferentes dinâmicas da ditadura brasileira podem ser melhor compreendidas se observarmos também as ações realizadas pelos atores políticos que foram exilados.

Palavras-chave: Ditadura civil-militar; exílio; Miguel Arraes; Argélia.