A década de 1880, no Brasil, tem a imprensa como uma de suas características marcantes, que representa uma forma de expressão e locus privilegiado de vários discursos para a sociedade, principalmente, o de ordenamento social e higienista que encontrou seus ecos a partir da escrita de intelectuais nos jornais. Esse discurso foi sentido com mais vigor, nesse período, em virtude dos debates que floresciam com intensidade à medida que as ideias republicanas e abolicionistas circulavam mais no país. Era perceptível uma maior receptividade para com as questões das ciências, o que envolvia uma grande preocupação com um saber mais ligado à medicina com relação a saúde e as doenças. Esses jornais, apesar de possuírem um cunho político, deram abertura para que os intelectuais emitissem críticas e escrevessem sobre a realidade local. Os “homens de letras” se viam com a “missão social” de traçar essas novas perspectivas na vida da população de forma a incentivar, pela inscrita nos jornais, a implementação das mudanças sociais que as províncias precisavam. Observando esses discursos, compreendemos que os jornais teresinenses, que circularam na cidade na década de 1880, possuíam uma gama importante de questões relativas aos discursos das mudanças que deveriam ser operacionalizadas na sociedade, entre as quais estavam a maneira de se lidar com as doenças e epidemias que gracejava em Teresina e sobre as práticas higienista e de saúde presentes na cidade. Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi pensar o contexto social no qual se dava essa escrita, além de analisar o posicionamento dos seus redatores e colaboradores para termos uma compreensão das questões relativas a esse processo de modernização, higienização, saúde e doenças como pontos correlacionados às ideias de progresso e civilidade daquele período. Dessa forma, trabalhamos com análise das representações e narrativas históricas construídas nos jornais A Imprensa, A Época e O Telefone sobre as questões relativas à saúde e às doenças em Teresina na década de 1880. O procedimento abordado pela análise das fontes hemerográficas possibilitou na compreensão da emergência dessas questões em Teresina e das complexidades do campo social em que essas falas se engendraram, assim como na apropriação de um campo diverso de fontes para reflexões sobre as concepções elaboradas e difundidas sobre à saúde e as doenças na sociedade piauiense, os conflitos, aproximações e rejeições que norteavam esse universo. Nesse percurso, entendemos que as questões relativas à saúde e às doenças ampliaram o campo de visibilidade desse tema, bem como a ampliação da análise de um acervo hemerográfico a partir dessas problematizações. Desse modo, conhecemos, tanto a trajetória profissional dos médicos, quanto a história da cidade em um ângulo que alia a história ao campo da saúde e da medicalização nas ações de organização de seus espaços a partir das doenças que acometiam a urbes.
Palavras-chave: Doenças. Saúde. Imprensa. Teresina.