O presente trabalho parte da hipótese de que, no tempo presente, existem uma série de significados diferentes que cercam o fenômeno biológico atualmente denominado “hanseníase”. O objetivo principal é analisar como ocorre, no século XX, a construção e reconstrução dos sentidos de uma doença milenar que continua a reverberar no presente. Especificamente, a pesquisa buscou levantar o processo de construção das noções associadas à “hanseníase” desde 1995, quando a nova nomenclatura da doença foi oficializada (Lei nº. 9.010), até o momento presente. Para isso, o trabalho utilizou a História Oral como metodologia, realizando três entrevistas coletivas com antigos pacientes internados compulsoriamente na Colônia Santa Isabel, um dos mais de trinta asilos-colônias construídos para isolar os sujeitos atingidos pela doença. Além das entrevistas de História Oral, o trabalho analisou outros documentos, como Cadernos do Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase), decretos da legislação brasileira e reportagens de jornais. As fontes, orais e escritas, foram mobilizadas para discutir a importância da Lei 9.010 na construção institucional da doença e dos sentidos associados à hanseníase, abordar questões relativas ao Morhan e debater: o que significa ser “hanseniano” para os sujeitos atingidos pela hanseníase? Como e por que se constituem assim? Finalmente, o trabalho discute as persistências do passado visíveis nas demandas por reparação daqueles cujas vidas foram atravessadas pela experiência do isolamento. Com o desenvolvimento da pesquisa, os diferentes sentidos atribuídos à doença causada pelo Bacilo de Hansen foram questionados. Isso significa que os variados significados que cercam o fenômeno biológico atualmente chamado de “hanseníase” puderam ser questionados diante dos sentidos associados à antiga metáfora da lepra. Dessa forma, foi possível observar o processo de negociação e nomeação da doença, através do qual sua existência foi acordada, e os sujeitos passaram a responder a ela. Por sua vez, as narrativas dos antigos pacientes da Colônia Santa Isabel levantaram aproximações e afastamentos entre as duas nomenclaturas da doença, permitindo uma melhor compreensão das noções que circundam o evento biológico e as internações compulsórias.
Palavras-chave: Hanseníase. Lepra. História Oral. Colônia Santa Isabel.