Este trabalho pretende compreender as formas pelas quais a instalação, funcionamento e expansão da iluminação a gás exerceram efeito sobre a percepção e os hábitos de homens e mulheres que residiram na cidade de Fortaleza ou a visitaram, num período que se estende em linhas gerais da década de 1860 à de 1930. Tal intervalo corresponde à operação da luz de gás no espaço da capital cearense, que trouxe consigo um incremento nas expectativas de associá-la aos grandes centros que já possuíam aquele sistema técnico. Partindo do entendimento de que a conexão das pessoas no e com o espaço se efetua por meio dos sentidos, e de que tal processo não configura uma dimensão invariante, mas se transforma com o tempo e apresenta diferenças conforme o período em questão, busca-se inventariar e discutir as distintas impressões que uma dada infraestrutura urbana desencadeou no cotidiano dos moradores ou dos que por ali passaram, afora o próprio espaço que esse novo sistema ajudou a constituir. A análise de um domínio da luz pautado em procedimentos da era industrial também projeta visibilidade para um conjunto diversificado de artefatos e materiais que coexistiram com o gás, ou com ele disputaram potenciais consumidores, desde velas produzidas em âmbito doméstico à geração de eletricidade, a qual implicou a introdução de uma nova rede técnica no início do século XX. No presente momento da investigação o foco está delimitado entre os anos 1860 e o fim do século XIX. A pesquisa se apoia no mapeamento e exame de um conjunto heteróclito de documentos, entre os quais narrativas de viagem, almanaques, jornais, livros de memória, estatísticas e crônicas históricas.
Palavras-chave: Cultura material. História dos sentidos. História das técnicas.