Terceiro Ciclo do cinema paraibano (1979-1987): fisionomias de uma cinematografia engajada e experimental

Autor(a) principal: Rafael Morato Zanatto
Co-autor(a): -

Não é de hoje que o cinema paraibano é uma realidade no panorama mais amplo da cultura cinematográfica brasileira. Ao longo de sua história, ele se notabilizou nacionalmente pela escolha de temas retirados do tecido social e pelo registro de personagens autênticos e de paisagens singulares. Com esse empenho, o cinema paraibano apresentou aos espectadores as características de uma cotidianidade concreta e nisso reside seu maior interesse histórico, estético, antropológico e sociológico. Não por acaso, os filmes paraibanos antigos e contemporâneos podem ser interpretados como verdadeiros anais do cotidiano, ou ainda, como construções imagético-discursivas reunidas em constelações de sentido que viabilizam uma representação concreta das vivências e das experiências de seus personagens. Tendo em vista essas características gerais, a pesquisa se dedica ao estudo de um momento particular na história do cinema paraibano: o terceiro ciclo produtivo (1979-1987) do cinema paraibano que aflui no período com a afluência de novas condições que resplandecem no horizonte, como a fundação do Curso de Comunicação Social da UFPB, a incorporação de nomes da geração anterior em seus quadros técnicos e profissionais, a produção de Gadanho (1979), de João de Lima e Pedro Nunes e o estabelecimento de um convênio com o Centro de Formação em Cinema Direto de Paris (Associação Varan) que havia sido presencialmente firmado durante sua participação na VIII Jornada Brasileira de curta-metragem (1979) em João Pessoa por seu diretor, o cineasta Jean Rouch. A partir de então, 17 bolsistas paraibanos realizaram estágios em Paris e muitos outros quadros técnicos e profissionais foram formados no âmbito dessa colaboração. Já no primeiro ateliê, foram produzidos os documentários Sagrada Família (Everaldo Vasconcelos, 1981); Tá na Rua (Henrique Magalhães, 1981); Seca (Torquato Joel, 1981); É Romão praqui, Romão pracolá (Vânia Perazzo, 1981); Mestre de obras (Newton Araújo, 1981); e Perequeté (Bertrand Lira, 1981). Para o entendimento dessa nova arrancada do cinema paraibano, é necessário ainda destacar a importância do Núcleo de Cinema Indireto (NUCI) em Campina Grande no seio da universidade, a partir da qual foram produzidos filmes que buscavam ultrapassar as fronteiras do real e do imaginário, das narrativas documental e ficcional. Do conjunto de 84 filmes em Super-8 produzidos no período e recentemente digitalizados pelo NUDOC-UFPB, destacam-se Caiana dos crioulos (1981), título que registra as tradições orais da comunidade quilombola de Alagoa Grande (PB), Festa de Oxum (1982), que capta a criatividade prática do ritual de preparação da comida para Oxum e outros orixás e Ciclo do Caranguejo (1982), que cristaliza em imagens os penosos atos da vida cotidiana dos catadores de caranguejo das comunidades ribeirinhas de Várzea Nova, Porto do Moinho, Forte Velho e Livramento. Diante dessa problemática, a pesquisa pretende demonstrar como os filmes do terceiro ciclo estabelecem uma crítica à construção de uma identidade regional de elite pelo contraste com imagens retiradas do cotidiano, no modo como formulam discursos constitutivos desses mesmos espaços e dos vínculos territoriais que estabelecem com o público local ao qual se destinavam. Em linhas gerais, trata-se de um estudo sistemático de conjunto que identifique suas singularidades através da análise de sua expressividade social e linguagem, ou ainda, que saliente um estilo cinematográfico compartilhado e constitutivo do cinema paraibano em seu terceiro ciclo (1979-1987).

Palavras-chave: Historiografia. História do Cinema. História e Regionalidades.