Ambrósio Leitão da Cunha, filho do major e cavaleiro da Casa Real Gaspar Leitão da Cunha e de Maria Antônia da Fonseca e Cunha, ambos de origem portuguesa, foi chefe de polícia; juiz na Capital e em várias comarcas do interior; desembargador e presidente da província do Pará; presidente das províncias da Paraíba, do Maranhão, de Pernambuco e da Bahia, além de senador e ministro do Império (Acevedo Marin, 1985: 160). Casado com Maria José da Silva, filha do capitão José Joaquim da Silva e de Maurícia Josepha Michaela da Gama Lobo, passou a integrar uma das mais bem sucedidas famílias do Estado paraense e, mediante a isso, também criou laços com outras figuras importantes da elite provincial como José da Gama Malcher e Bernardo de Souza Franco, futuro visconde de Souza Franco, que eram casados com as irmãs de sua esposa, pertencendo, nas palavras do visconde, à “família dominadora”. Foi nomeado Barão de Mamoré pelo imperador D. Pedro II em 1883 após a construção de duas estradas de ferro: a de Bragança, no Pará, e a de Madeira-Mamoré, no Amazonas, mesmo que sem grande sucesso. Ambrósio também liderou uma importante facção do partido Conservador no Pará, sendo amigo íntimo do chefe do partido, o cônego Siqueira Mendes, exercendo com isso grande influência na província. Tendo isto posto, a presente pesquisa tem como objetivo analisar as estratégias de Ambrósio Leitão da Cunha para a consolidação de suas redes de poder, em nível provincial, no Grão-Pará, examinando como este utilizou de seu grupo familiar, como forma a garantir protagonismo político na província de origem, problematizando o papel e a função de sua parentela para tal, considerando que a lógica do parentesco, no interior das famílias de elite, determinava o acesso a recompensas materiais, status social e, especialmente, participação nos processos decisórios (Lewin, 1993: 115). Em termos metodológicos a pesquisa utiliza como fonte principal a correspondência passiva de Ambrósio, disponível on-line no Acervo Digital do Museu Imperial na sessão da Coleção Barão de Mamoré, a princípio analisando o conteúdo político presente nas cartas. Vislumbramos os limites da correspondência pessoal enquanto fontes históricas, entretanto também compreendemos suas potencialidades no sentido de atribuir significados a ações que poderiam parecer isoladas, assim como no de realçar o papel da parentela nas redes de poder analisadas, na trajetória de Ambrósio Leitão da Cunha e sua família. Desse modo, o que podemos aferir, no momento em que essa pesquisa se encontra, é que a ascensão política percebida na trajetória de Ambrósio é reflexo da sua bem sucedida aliança matrimonial, que o possibilitou estabelecer uma rede de parentela influente, tanto em nível provincial quanto nacional, abrindo as portas para cargos importantes durante o Império no Brasil, seguindo a lógica suscitada por Lewin (1993) que a política se enraizava em uma base familiar. O estudo da trajetória de Ambrósio Leitão da Cunha pode representar um importante e novo lócus de observação para a compreensão da relação entre redes familiares e poder político no Pará oitocentista.
Palavras-chave: Parentela. Política (Séc. XIX). Barão de Mamoré.
Maycom Cristyan
em resposta ao Trabalho
Um excelente trabalho sobre parentela e o poder provincial do barão