O interesse desse estudo compreende não só a Revolta do Pinto Madeira (1831 a 1832) e seu coletivo de trabalhadores e demais subalternizados, como livres, libertos, escravizados e pobres, os chamados “cabras”, mas também o desencadeamento das rivalidades pelos espaços e o deslocamento da população a partir desses conflitos, além das movimentações protagonizadas pelos revoltosos e a passagem de pessoas entre províncias próximas para fugir das autoridades. Nesse sentido, busca-se compreender as motivações políticas desse conflito, principalmente o caráter social presente na Revolta, bem como analisar como a insurgência foi documentada oficialmente na época. A metodologia da pesquisa se baseia nos registros da Capitania da Província do Ceará, datados entre as décadas de 1820 e 1840, disponíveis no Arquivo Público do Estado do Ceará, sobretudo os documentos “1831 – 1832 – Registro Geral da Correspondência” e o “Ofício do Governo da Província do Ceará dirigidos para a Secretaria de Estado dos Negocios da Justiça”. Tais escritos são digitalizados, transcritos e minuciosamente examinados, servindo como alicerce para as análises desse período. São consideradas também as perspectivas historiográficas sobre o conflito, explorando artigos e teses especializadas nesse tema. A partir da pesquisa cometida, desprende-se como resultado da análise documental-historiográfica que a composição do Alto Sertão compreende um complexo segmento, marcado por conflitos sangrentos e disputas territoriais intensas, discutindo importantes temáticas como o desenvolvimento do cangaço no Cariri, cidadania no Ceará oitocentista — e a consequente marginalização da população negra, indigena e pobre desse processo —, a presença-participação senhorial e portuguesa nesse cenário e, por fim, a construção narrativa tanto da figura de Joaquim Pinto Madeira, como dos que ficaram conhecidos como “cabras”, tendo suas atuações identificadas como perigosas e ameaçadoras, isto é, cristalizando os opositores as autoridades locais como “não-cidadãos”. Logo, conclui-se que os estudos histórico-sociais desse território são imprescindíveis para interpretar de modo crítico e profundo a realidade decorrente da transição Império-República e a formação das novas conversões espaciais, fruto do notório deslocamento populacional movido pelos conflitos citados.
Palavras-chave: Pinto Madeira. Território. História Social.